Um relato deprimente, mas real. Histórias como essas acontecem em todos os continentes. Seu grito foi ignorado por uma instituição que deveria defender seus direitos que o Estado foi incapaz também de defender.
Há que se lutar!! Há que se fazer esse grito ser escutado...
"Nely tem 20 anos e nasceu na ilha de São Tomé. Está em Angola há dois anos e sete meses. Veio com um namorado, também de São Tomé, que já morava em Luanda. Separado da primeira mulher, o namorado insistia há tempos para que ela viesse morar com ele. Carpinteiro, ele dizia ganhar o suficiente para sustentar os dois.
Nely veio, engravidou, separou e hoje mora com a filha num anexo alugado (como os angolanos chamam os cômodos construídos nos quintais) em uma casa de família.O drama de Nely começou poucos meses depois do desembarque em Luanda. O namorado, promovido a marido/senhor quando ela pisou em solo angolano, continuava as viagens para São Tomé. Lá, reatou com a primeira mulher. Durante alguns meses, administrou a relação de bigamia internacional.
A primeira mulher descobriu e passou a ligar para Nely. Discutiam ao telefone. Nely foi tomar satisfações com o marido e acabou submetida a uma rotina de espancamentos. Cada vez que a primeira mulher ligava, Nely reclamava e apanhava. As vizinhas diziam para ela ir à polícia. Nely não ia.Um dia, toda machucada, saiu de casa com a roupa do corpo e a filha de nove meses. O marido reteve todos os documentos dela. Rasgou o passaporte e o cartão de estrangeiro. Nely hospedou-se na casa de um primo por alguns dias, até alugar o quarto onde vive com a filha há três meses....
...Nely ainda encontra o ex-marido. Ele visita a filha com freqüência. Alega que tem direito e insiste para ela voltar. Ela diz que não quer, mas admite que ainda se relacionam."
"Ele reapareceu ontem à noite na porta do quarto que Nely aluga nos fundos de um casa em Sambizanga.
Exigiu entrar. Nely não deixou. Ele esmurrou a porta até cansar.
Hoje cedo, quando Nely abriu a porta, ele estava lá fora.
Arrancou a filha de casa e a levou embora. Diz que vai voltar para pegar suas coisas que estão lá, que ele havia dado para Nely depois de tê-la expulso de casa. As coisas são: um aparelho de TV, uma cama, uma mesa.Nely ligou para a OMA, a organização que devia defender os direitos das mulheres, para informar que a filha foi levada. Nada aconteceu. Uma funcionária disse que não havia ninguém e que ela deveria ir la na terça-feira, assinar o tal papel em que ela se compromete a aceitar o ex-marido-espancador (que continua a viver com a primeira mulher) ou voltar para São Tomé.
O sujeito espanca a ex-mulher com um pedaço de pau e nada acontece. Ele tira a filha da mãe e nada acontece. Afinal, o que acontece por aqui?No Consulado de São Tomé, disseram que Nely terá mesmo de sair de Angola e regressar por conta própria se quiser ter paz.
O ex-marido-espancador quer obrigar Nely e a filha a voltarem para São Tomé e ficarem lá de vez."
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