Esse conto foi uma criação inspirada no caso de Ana Carolina , a mulher e mais uma vítima da violência que inspirou a criação desse blog. sua história está nos arquivos desse blog do mês de julho entitulado "Ana Carolina, a origem do blog". Esse texto é uma criação e não se assemelha à brutalidade cometida à Ana Carolina. è mais uma forma de lembrar do "Grito de Ana".
Suzana e Ana Carolina
Seu rosto estava inchado. Seus olhos avermelhados pelo impacto. A faixa estava envolvia sua cabeça a partir do seu queixo. A panela estava fazia na sua casa quando ele chegou do trabalho. Ana Carolina era uma mulher que sonhou em se casar, estudou, formou-se na faculdade de arquitetura e trabalhava como decoradora. Com seus 32 anos era independente financeiramente e emocionalmente. Seu marido era empresário, tinha uma consercionária de carros importados.
Ana Carolina e Filipe se casaram na igreja e a festa de casamento foi a notícia na capital mineira. Ana Carolina, como uma típica mineira belorizontina, era vaidosa, prendada, tradicional, cheia de graça e simpatia pela vida. Seus cabelos castanhos se espalhavam na agitação da torcida pelo seu time no Mineirão. A bela e tradicional mineirinha já era uma mulher que estava realizando seu sonho de casar e cuidar do seu amado. Aos 25 anos ela se casou com Filipe.
Filipe, 30 também era mineiro, mas diferente de Ana Carolina que veio de uma família de funcionários públicos de classe média, seus pais eram ricos empresários do ramo imobiliário. Filipe viajou o mundo, fez o tão sonhado intercâmbio cultural nos Estados Unidos, conheceu a Disney, estudou nas melhores e mais caras escolas e se formou em administração de empresas tendo recebido do pai o investimento necessário para abrir a concessionária de veículos importados.
Fábio e Suzana acordaram com a chegada de Ana Carolina e Filipe. Fábio era vizinho de porta de Filipe. A parede da sua sala dividia os dois apartamentos que eram no sétimo andar de um prédio de luxo do bairro Funcionários. Filipe falava palavrões e gritava muito. Ana Carolina tentava contê-lo em vão. Eles haviam chegado da balada e Filipe estava bêbado e agressivo. Suzana se assustava com os chutes que Filipe dava na porta de seu apartamento enquanto Ana Carolina, amedrontada tentava pegar as chaves pedindo para ele parar.
Fábio se levanta, troca de roupa e destranca a sua porta, mas não abre. Suzana chora e em silêncio senta no sofá da sala. Coloca suas mãos em seu rosto e seus sentimentos se misturam em entre a revolta, a vergonha e a dor. Suzana não voltaria mais a dormir naquela noite.
Ana Carolina abre a porta e entra na frente de Filipe para deixar a sua bolsa e retornar para ajudá-lo a entrar. No instante que ela entra, seu esposo entra atrás e chuta suas costas fazendo com que ela caia e bata seu rosto na mesa de centro da sala. Filipe, tomado por uma fúria e descontrolado ignora os gritos de desespero de sua esposa e chuta seu corpo já caído. Desfere socos contra seu rosto entre um xingamento e outro.
Ao perceber a intensidade e gravidade da situação, Fábio abre sua porta e entra no apartamento de Ana e Filipe. A polícia recebe uma ligação de emergência. Os vizinhos estão acordados. Fábio é levado preso.
O policial militar entrega a ocorrência na delegacia e apresenta Fábio na presença do delegado. No boletim de ocorrência constava o relato do fato pela versão de Fábio e de sua vizinha do andar de baixo como testemunha.
Em depoimento Fábio diz:
“Eu e minha esposa estávamos dormindo quando acordamos com o barulho que Filipe fazia. Eles pareciam estar chegando de alguma festa. Era por volta das 03h20 da madrugada. Não foi a primeira vez que escutamos eles brigarem e ele agredir ela. Mas dessa vez parecia ser pior. Pelas discussões Filipe parecia ser muito ciumento por que Ana era muito bonita. O nosso contato era somente nas reuniões de condomínio e as vezes entre uma festinha e outra do conjunto. Ana sempre muito reservada e centrada não era muito de dar espaço. Ao ser acordado e ter percebido que a briga parecia ser feia, me preparei para intervir por que já não aguentava mais ter que escutar aquela situação. As viatura da polícia já esteve lá das outras vezes que os outros vizinhos chamaram mas não deu em nada. Ele atendia os policiais e dizia que não estava acontecendo nada. Os policiais não pediam para falar com ela e ficava por isso mesmo. Quando a polícia ia embora, ele voltava a bater nela. Escutávamos ela pedir “por favor, pare!”
O delegado querendo ser mais objetivo pergunta o que realmente aconteceu no momento da briga, entre os três no apartamento.
“quando eu escutei algo de vidro cair e quebrar no chão eu abri e minha porta e entrei no apartamento deles. Ele estava segurando Ana por cima do cabelo e dando soco em seu rosto. Ela estava deitada no chão e em cima dela. Nesse momento eu não pensei na medida da minha ação e acertei o lado direito do seu rosto por trás com um soco. Ele caiu entre os vidros da mesa de centro que ele havia jogado Ana e se levantou com um pedaço de vidro na mão partindo em minha direção dizendo que iria me matar e matar aquela vagabunda. Eu me afastei para me defender nesse movimento eu esbarrei na pequena estante de televisão. Nela havia um vazo de flores que usei para me defender. Quando ele tentou me cortar com o vidro eu quebrei o vazo na sua cabeça e em seguida perdi o controle de mim e comecei a bater em seu rosto com chutes até que os policiais me seguraram por trás e me tiraram do apartamento.”
Fábio responde processo por lesão corporal grave em Filipe que perdeu a visão de um dos olhos e teve seus dentes da frente quebrados. Suzana acompanha Ana Carolina de perto vizitando no hospital e ambas se tornaram amigas e companheiras.
Fábio descidiu fazer acomanhamento pscicológico para controlar a raiva. Ele havia sido policial militar por sete anos. Abandonou a profissão depois que agrediu Suzana com o tapa no rosto após chegar em casa. Cansado e estressado com a profissão e a instituição resolveu largar tudo como forma de salvar seu casamento, recuperar sua saúde pscicológica e se redimir com sua esposa. Hoje Fábio é professor e eles tem uma filha de três anos, o remorso dele a as lembranças dela ainda são uma ferida aberta na vida dos dois.
A cada chute no rosto de Filipe, Fábio tentava se perdoar pelo tapa que um dia ele deu em sua mulher.
André Silva – andreluizjornalista@hotmail.com
Jornalista e Especialista em Criminalidade e Segurança Pública
29-06-2009
Um comentário:
História emocionante, que acontece a todos os dias por muitas partes do nosso mundo. Pessoas que perdem o controle por causa da bebida. Acabam com a vida, acabam com o dinheiro, acabam com a família, acababam com a saúde. Mas o que percebe é que em meio a tantos altos e baixos a vítima sempre defende a agressor; infelizmente.
Parabéns meu amigo André Luiz. Continue assim, escrevendo as histórias do nosso dia a dia. Sucesso.
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