Presa em sótão, ela foi espancada, passou fome e teve unhas arrancadas
Uma jovem afegã de 15 anos de idade foi torturada e mantida em cativeiro por seu marido durante meses quando se recusou a se prostituir. Os parentes do agressor também participaram dos atos de violência. Presa no sótão de sua casa, ela teve suas unhas arrancadas e sofreu de espancamentos à queimaduras. Por muitas vezes, ela teve refeições negadas.
Oficiais afegãos anunciaram que a adolescente Sahar Gul será enviada à Índia para receber tratamento médico. A polícia já prendeu a sogra e a cunhada da adolescente, suspeitas de terem sido cúmplices do crime. Seu marido, Gulam Sakhi, um militar, e seu sogro permanecem foragidos.
A jovem já está em recuperação e apresenta melhoras gradativas. Entretanto, foi submetida a tratamento psiquiátrico, pois o longo período de reclusão pode ter causado traumas.
Em uma primeira ocasião, segundo testemunhas da comunidade onde vivia, Gul tentou fugir e refugiar-se na casa de vizinhos. A líder comunitária local, identificada como Ziaulhaq, conta que ela “percorreu toda a vizinhança, falando que seu marido queria transformá-la em prostituta”.
Os moradores garantem que acionaram a polícia. Ao chegarem ao local, as autoridades foram desafiadas pela sogra. A mãe de Gulam Sakhi argumentava que seu filho havia comprado a jovem por um dote de mais de quatro mil dólares. Em seu entendimento, seu filho possuía o direito de fazer o que bem entendesse com a jovem.
Mesmo após a primeira averiguação policial, Sahar Gul voltou para o cativeiro. Ziaulhaq acusa a família de família pagar propina aos oficiais para encobrir as denúncias. Rahima Zarifi, chefe do departamento de mulheres da província de Baghlan afirma não conhecer a razão de a jovem ter retornado para a guarda do marido.
A tortura teve fim apenas com a visita do irmão da jovem, que a encontrou em condições críticas, incapaz até mesmo de se comunicar. As autoridades tentaram, então, resolver o impasse por meio de estratégias “tradicionais”, ou seja, negociando verbalmente com o marido e o irmão da vítima.
O presidente afegão, Hamid Karzai, prometeu que os responsáveis serão punidos.
Fauzia Kufi, uma parlamentar afegã militante dos direitos das mulheres, lembra que houve uma enorme pressão para que o caso não se tornasse público. No Afeganistão, “muitos não levam a sério esse tipo de crime e acham que não deve ser noticiado. Até mesmo as autoridades culpam os departamentos de mulheres por não resolverem esses impasses localmente, de maneira tradicional entre as famílias”, conta a ativista ao jornal britânico Guardian.
Um consultor do Ministério da Saúde Pública, Abdullah Fahim, concorda com a opinião de Kufi: “Nós temos diversos casos como esse, especialmente em locais remotos do país aonde não há uma forte atitude pelos direitos das mulheres”.
O Afeganistão implementou há dois anos uma lei de eliminação da violência contra as mulheres, mas é constantemente acusado pela comunidade internacional de não fiscalizar esse tipo de violação. Um recente relatório das Nações Unidas revela que apenas 26% dos casos de violência registrados por grupos de defesa dos direitos humanos tornaram-se processos e investigações na justiça afegã. As informações são da agência de notícias Associated Press.
Fonte: Ópera Mundi
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