O mais difícil às vezes não é fazer a denúncia, mas mantê-la, porque, na maioria dos casos, a retirada da queixa é comum e resultante da interação das vítimas, hesitantes em criminalizar penalmente o parceiro, que está perturbando a ordem doméstica, com as polícias, que percebem nas queixas uma situação mais social ou psicológica, desqualificando-as como crime.
Depoimentos:
Teve um dia que ele me bateu e eu fiquei com aquela raiva, aí fui para a delegacia, nesse dia fiquei de plantão, aí fiz um BO contra ele, mas não tive coragem de seguir em frente, eu queria mais era dar um susto nele.
Eu não dei continuidade no processo, não sei o que acontece parece que você fica dependente como se fosse uma droga.
Enfim, as dificuldades para mudar as situações são muitas, mas também são variadas as formas como as mulheres falam sobre os seus problemas, como procuram ajuda e por vezes conseguem transformar a situação.
Está-se, então, diante de um quadro de mudança de comportamento muito sério, cuja situação é delicada e de solução difícil, uma vez que a área de abrangência perpassa os campos da saúde, da política e da cultura, e, para essa percepção, somam-se os medos e os receios de perdas, frequentes em situações de violência.
Medos da reação do companheiro e a possibilidade de ele agredi-la, abandoná-la ou mesmo de matá-la; o medo de perder a guarda dos filhos, de perder sua casa e ficar sem nada. O medo de não se reconhecer como mulher capaz de desenvolver mecanismos de enfrentamento e superação da violência vivida.
As situações de privação, econômicas e culturais, são fundamentais para essas mulheres não vislumbrarem novos horizontes e não descobrirem saídas para romper o silêncio que permeia a violência doméstica e buscar opções viáveis para quebrar o seu ciclo..
A percepção que possuem sobre a violência, representada pela lógica patriarcal, desmistificando a naturalidade da violência do homem contra a mulher, as crenças e os valores acerca dessa violência pode influenciar as mulheres a perceberem sua suscetibilidade em apresentar o problema e a sua severidade.
Do mesmo modo, as mulheres também podem notar os benefícios em se evitarem as situações e os comportamentos que consideram de risco e, ao entender que essa violência foi culturalmente elaborada, identificar as barreiras para se fazer a denúncia, compreendendo que essa situação pode ser mudada.
Nessa perspectiva, uma denúncia mais efetiva pode ser obtida quando as crenças das mulheres sobre a sua suscetibilidade à violência, a severidade da violência e os benefícios e as barreiras para agir são consideradas e direcionam a vítima na tomada de consciência.
Ao relatarem suas formas de enfrentamento nesse processo, essas mulheres permitiram vislumbrar o universo de significados que emergiram de suas experiências com a violência. Para elas, a vivência dessa situação ultrapassou os limites da experiência física, pois também envolveu sofrimento psicológico, emocional, econômico e social. Assim, revelaram o silêncio inerente das relações violentas e procuraram estratégias capazes de minimizar os efeitos gerados pela convivência com a violência, romperam com o silêncio e partiram para a concretude da ação.
Fonte: Blog " Uma mulher na luta contra violência contra a mulher"
http://araretamaumamulher.blogspot.com/2010/06/o-mais-dificil-as-vezes-nao-e-fazer.html
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