domingo, 13 de janeiro de 2013

Patrulha Maria da Penha monitora a segurança das vítimas de violência doméstica (Zero Hora)

Data: 08/01/2013

Mutirão na Delegacia da Mulher para a conclusão de 2 mil inquéritos foi fundamental para o monitoramento dos casos de violência
 
Protegida pela polícia, Eloá, que vivia enclausurada com medo da violência doméstica, agora se sente encorajada a reabrir sua casa
 
 
Dona Eloá comemora a liberdade com a retomada de pequenos hábitos: portas e janelas abertas, almoço na mesa da cozinha e o culto na igreja evangélica. Tudo aquilo que o ciúme obsessivo do companheiro não permitiam que ela fizesse.
Durante os 10 anos em que esteve ao lado de Nelci dos Santos, 49 anos, viveu enclausurada. Depois de registrar ocorrências contra ele, decidiu pedir uma medida protetiva de urgência, documento que impediria Nelci de se aproximar dela.
Dias após a solicitação deferida pela Justiça, recebeu a visita da Patrulha Maria da Penha da Brigada Militar (BM), ação criada há dois meses para monitorar a segurança das vítimas de violência doméstica. Foi instruída sobre como fazer para que Nelci respeitasse a ordem. Em 14 de dezembro, no primeiro dia que o homem bateu à sua porta, na nova Vila Dique, Eloá ligou para a BM, que o prendeu em flagrante.
O inquérito de Eloá Fátima Belmonte da Silva, 54 anos, está entre os 2 mil concluídos pela Delegacia da Mulher durante um mutirão realizado em dezembro, com objetivo de acabar com a sensação de impunidade.
Passados seis dias no Presídio Central, Nelci foi solto. Eloá espera que ele tenha aprendido a lição:
— Antes ficava por isso mesmo. Agora que a Brigada me conhece, coloca um respeito maior.
Mulheres determinadas como Eloá não preenchem a realidade. No dia 21 de dezembro, ZH acompanhou a ação da Patrulha Maria da Penha, que visita apenas vítimas com medida protetiva. De sete famílias, metade havia reatado. Em uma das residências, na Lomba do Pinheiro, um vizinho se aproximou a passos lentos e soltou:
— Vocês estão perdendo tempo. O cara passa todas as manhãs na casa dela. Ela deixa.
O semblante dos três brigadianos traduziu-se em pesar. Aquele era um dos 23 casos de risco dos 155 atendidos no mês.
— Não me sinto frustrada, mas chateada. Eles prometem que não vão mais bater, mas sei que é difícil isso acontecer. Aí, ela retira a medida protetiva. Ele bate de novo. E ela tem de começar o processo todo outra vez — diz a soldado Márcia Passos, secretária da Patrulha, preparando-se para a nova missão.
Passava das 16h, quando chegaram à próxima protegida, distante 15 minutos dali, em uma estrada de chão. Assim que a soldado Cemele de Medeiros estacionou a viatura, — uma caminhonete da BM cujo vidro traseiro é adornado por um adesivo lilás com o nome da patrulha —, viram que o marido estava em casa.
O soldado Uilian Teixeira apeou de arma em punho. Calmamente, o agressor foi até o portão explicando que estava lá com o consentimento da mulher. O PM e as outras duas soldados estavam prontos para prendê-lo em flagrante. A Lei Maria da Penha diz que, se o agressor desrespeita a determinação judicial de se manter afastado da vítima, é cadeia na certa.
A soldado Márcia ligou para a mulher, que admitiu ter dado uma chance. Os militares não tiveram alternativa: desarmaram a guarda.
 
Conflitos são expostos para a vizinhança
 
A rotina da patrulha inclui uma média de 15 visitas diárias, inclusive nos finais de semana. Nem sempre encontram as vítimas em casa. Nessas situações, relatos de vizinhos sobre o casal são tomados para compor o relatório que é entregue à Delegacia da Mulher.
— O objetivo é tornar público para toda a vizinhança que ali mora um agressor. Queremos conquistar a confiança das pessoas e mostrar que temos uma polícia conciliadora e não repressora — explica a tenente-coronel Nádia Gerhard, coordenadora Estadual da Patrulha Maria da Penha.
A interferência do Estado nos conflitos domésticos virou uma política pública em virtude dos altos índices de morte desta natureza. Só em 2012 foram 91, contra 46 de 2011. De cada 10, quatro procuraram a polícia antes da fatalidade. Titular da Delegacia da Mulher de Porto Alegre, supervisora do mutirão que deu vazão a 2 mil processos, entre os quais estava o caso de dona Eloá, que inicia esta narrativa, Nadine Anflor explica que, todos os dias, 40 mulheres registram queixa contra seus companheiros só no Palácio da Polícia. Depois que a Patrulha Maria da Penha se iniciou, o número de pedidos de medidas protetivas passou de 399 para 539.
— Ver a patrulha na rua faz com que elas entendam que não são apenas um número de ocorrência. São tratadas pelo nome por um agente que fiscaliza se o agressor está cumprindo a ordem de não chegar perto da vítima — observa Nadine.
 
Rede de proteção
 
— A Rede de Atendimento para o Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar é formada por Brigada Militar, Polícia Civil e Instituto-geral de Perícias.
— A Patrulha Maria da Penha é composta por 16 policiais militares que fazem rondas nos quatro Territórios de Paz de Porto Alegre (além da Lomba do Pinheiro, nos bairros Rubem Berta, Restinga e Santa Tereza), e 16 em Canoas, consideradas zonas com alto índice de violência doméstica. Até março, Alvorada e Novo Hamburgo podem ter o serviço.
— Foram realizadas 660 visitas em dois meses da Patrulha Maria da Penha.
— A Delegacia da Mulher recebeu o reforço de seis policiais que ajudaram a finalizar 2 mil inquéritos nos últimos 30 dias, que já foram remetidos à Justiça na semana passada. Foram priorizados os casos mais graves de 2012 e os mais antigos, de 2009. Ainda restam 15 mil em andamento.
— Ao final do fechamento dos inquéritos, em dezembro, uma operação comandada pela delegada Flávia Faccini terminou com a apreensão de duas armas na casa de homens suspeitos da prática de violência doméstica.
 
Foto: Tadeu Vilani / Agencia RBS
Kamila Almeida
kamila.almeida@zerohora.com.br
 
 

Quando os estupros vão chocar a África do Sul? (BBC Brasil)

Sul-africanos se acostumaram com o fato de terem sociedade violenta
 
O jovem de 22 anos estava sentado dentro de um bar improvisado no bairro de Soweto, poucos dias antes do Ano Novo, quando a polícia apareceu atrás dele.
Segundo testemunhas, o jovem tinha acabado de atacar e estuprar uma menina de 17 anos em sua mesa de bar, mas aparentemente considerou o incidente tão trivial que sequer tentou fugir.
Os demais frequentadores do bar, exceto pela vítima, nem se deram ao trabalho de chamar a polícia.
Num momento em que a Índia está reexaminando sua sociedade por conta do estupro coletivo seguido de morte de uma jovem, a África do Sul parece continuar anestesia – incapaz de reagir coletivamente diante de estatísticas quase inacreditáveis e, aparentemente, muito piores do que as indianas.
Na África do Sul, quase 60 mil estupros são denunciados anualmente à polícia, o que é mais do dobro das denúncias na Índia (cuja população é 24 vezes maior que a sul-africana).
E especialistas acreditam que o número real de estupros seja ao menos dez vezes maior, ou 600 mil ataques ao ano.
 
Indignação isolada

Não é que a questão seja ignorada – longe disso.
Nesta semana, jornais sul-africanos estão reportando histórias assustadoras do que é descrito como uma nova tendência: o estupro de avós idosas, principalmente em comunidades rurais. Duas senhoras, de 82 e 73 anos, foram atacadas em 2 de janeiro.
Mas, apesar da indignação expressada pelos colunistas de jornais e por ouvintes das rádios locais, não foi criado na sociedade um sentimento unido de reação.
Recentemente, comentaristas e ativistas olharam para os desdobramentos na Índia quase com inveja, questionando-se quanto ao que pode ter provocado o atual sentimento de indignação coletiva e o debate sobre quem (ou o que) culpar – a história, as drogas, a pobreza…
“Ninguém vai me convencer de que o estupro de um bebê de três meses ou de uma vovó de 87 anos é causado pela pobreza, nem a queima de uma biblioteca ou o vandalismo de uma escola”, disse recentemente pelo Twitter a sindicalista sul-africana Zwelenzima Vavi.
“Talvez o estupro esteja na nossa cultura, como parte da cultura patriarcal”, disse à BBC a empresária e ativista Andy Kawa, que foi vítima de um estupro coletivo.
“É algo cotidiano. Acontece nos lares. Mas (é cercado de) silêncio por causa do medo; porque o estuprador, na maioria das vezes, detém o poder”, afirmou.
Mpumelelo Mkhabela, editor de um jornal de Soweto, diz que “o governo está fazendo o que pode, mas também precisamos que os cidadãos entrem na briga e assumam a campanha, em vez de ficarem apenas momentaneamente indignados”.
 
Sociedade violenta

Talvez a única certeza seja a de que a África do Sul é, há décadas, uma sociedade violenta, e as pessoas se acostumaram com isso.
Em muitas comunidades, jovens mulheres dizem que praticamente esperam ser abusadas, enquanto jovens homens crescem com um perigoso sentido de posse sobre elas.
Nesta semana, houve poucas reações públicas, exceto pela causada por algumas notícias de jornais, quando veio à tona a história de uma mulher de 21 anos foi vítima de um estupro coletivo na última terça-feira, durante sua viagem para se matricular em uma universidade nos arredores de Pretória.
Ela foi arrastada para uma mata por quatro homens ainda não identificados. Ela sobreviveu ao ataque.
No dia seguinte, a BBC foi à entrada da universidade conversar com outros estudantes. A maioria dos consultados não tinha ouvido nada a respeito do estupro, e nenhum pareceu nem um pouco surpreso. Estavam mais preocupados com guardar seu lugar na fila da universidade.
“Não estamos protegidas, não nos sentimos seguras”, disse uma estudante.
Um passante acrescentou: “Há muitos estupradores por aqui”.
Então, a jovem pensou por um momento, olhou para seus amigos e disse baixinho: “Não sei o que está errado com os homens. Algo precisa ser feito a respeito deles”.
Andrew Harding
Correspondente da BBC News na África
 

Nova Déli não é segura para as mulheres, diz Suprema Corte da Índia (BBC Brasil)

Em meio à crise gerada por um estupro coletivo que resultou na morte de uma jovem de 23 anos no mês passado, a Suprema Corte da Índia disse nesta sexta-feira que a capital do país, Nova Déli, não é um lugar seguro para as mulheres.
Um painel de juízes da mais alta corte indiana disse que o estupro em questão não foi um fato isolado e que está em seus objetivos prover um ambiente seguro em que as mulheres possam viver com dignidade.
Como parte dos reflexos do caso, milhares saíram às ruas do país em manifestações e o número de denúncias de estupro aumentou consideravelmente.
 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Advogados se negam a defender suspeitos de estupro de estudante indiana

AFP - Agence France-Presse
 
Advogados do tribunal de Nova Délhi que deve julgar os acusados pelo estupro de uma estudante indiana que faleceu no sábado em consequência dos ferimentos sofridos na agressão anunciaram que se negam a defender os seis suspeitos, que, segundo a imprensa, também tentaram atropelar a jovem depois do ataque.

A primeira audiência do tribunal do distrito de Saket, ao sul da capital federal, deve acontecer na quinta-feira com a apresentação de um relatório de 1.000 páginas da polícia.

"Decidimos que nenhum advogado se apresentará para defender os acusados do estupro porque seria imoral defender o caso", anunciou à AFP Sanjay Kumar, um advogado membro da Ordem dos Advogados do distrito de Saket.

Kumar afirmou que 2.500 advogados registrados no tribunal decidiram "permanecer à margem" para garantir uma "justiça rápida", o que significa que advogados de ofício representarão os suspeitos.

Outro advogado ligado ao tribunal confirmou à AFP o boicote.

De acordo com a imprensa indiana, os estupradores da jovem de 23 anos agredida por vários homens em um ônibus em Nova Délhi tentaram atropelar a vítima depois do ataque.

"A mulher e seu namorado tiveram as roupas retiradas e foram jogados do ônibus", afirma o jornal The Indian Express.

"O namorado a retirou quando viu que o ônibus dava marcha a ré para atropelá-la", completa o jornal.

O namorado da estudante, agredido com uma barra de ferro e jogado do ônibus depois que a jovem foi estuprada várias vezes, conseguiu afastar a vítima do veículo antes que ela fosse atropelada, revela um relatório de 1.000 páginas da polícia que será apresentado à justiça.

A imprensa indiana informou ainda que a jovem mordeu três dos seis agressores para tentar escapar das agressões.

As marcas das mordidas, o sangue, o esperma, os fios de cabelo e o depoimento do namorado devem ser usados como provas contra os acusados, segundo a imprensa e fontes policiais.

Seis homens foram detidos. Cinco deles devem ser julgados na quinta-feira por assassinato e estupro em um tribunal criado especialmente para o caso.

O sexto acusado, que teria 17 anos, deveria ser julgado por um tribunal de menores, mas está sendo submetido a exames para a comprovação da idade.

Os acusados podem ser condenados à pena de morte.

Segundo o Times of India, uma das acusações da polícia será a tentativa de destruição das provas pelo motorista do ônibus, que participou no estupro da estudante de Fisioterapia. Ele tentou lavar o veículo e queimou as roupas arrancadas da vítima.

A brutalidade do ataque provocou revolta na Índia e muitas manifestações contra a violência cometida com total impunidade contra as mulheres no país.
 
Fonte: Portal UAI